21 outubro, 2011

Miséria

Você queria ser um herói, né? Você acha que está se encaminhando em direção a isso. Mas vamos lá, encare. Vai facilitar às coisas pra você. Você vai ver a sí mesmo sem tanta pressão. Sem tanta auto crítica. Sem tanto pesar. Você já fez atos idiotas, burros, vergonhosos. Você é um humano. Não o humano da literatura, ou como nós humanos falamos que são os humanos. Idealizados. Você é um humano como todos nós. Você pensa em sí mesmo. Você não é bondoso ou perfeitamente racional e honrado. Você é um humano como todos os outros que você vê escorregando na rua, se humilhando, roubando misérias pra se drogar. Um humano animal como todos os outros animais.
Você pode tentar pensar, compensando, que todos os outros já fizeram burradas também, e que se você não está acima deles, pelo menos está igual. Mas isso não é sobre eles. É sobre você. Sobre aceitar a realidade sua, não deles. Acertar as contas entre você e seu ideal. Não aceitar o ideal de outras pessoas. Se aceitar. Vamos lá, você nunca será perfeito. Você já errou. E porque você não tinha conhecimento suficiente. Ou porque você é humano, tem desejos, e o mundo exige que aja em tempo. Ou seja, muitas vezes sem planejar. Mas isso também é arranjar uma desculpa. Colocar a culpa no mundo. Que se não fosse pelo mundo e seu tempo você seria perfeito. Você não é. Como humanos ganhamos uma grande habilidade de cérebro privilegiado. Mas isso não significa que com o que temos podemos chegar a tudo o que almejamos. Você nem lembra o quê você comeu no almoço de ontem.
E outra coisa, você não é o herói do mundo. Você não faz a diferença. O que você fez hoje? Almoçou. Conversou sobre um assunto facilmente esquecível. Comprou arroz e feijão. Talvez até um humilde chocolate para sí. Vê? Sua vida não ajuda ninguem. Não muda o mundo. Se você não existisse seria igual. Um cara solitário estaria feliz com sua namorada. Sua namorada não sentiria sua falta, pois teria construído sua vida sem você, que ocupa uma fração pequena na vida dela.

Eu quero me anular.
Esquecer a vida com álcool.
Preencher a minha miséria (a nossa miséria) com o corpo de uma mulher.

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