Você queria ser um herói, né? Você acha que está se encaminhando em direção a isso. Mas vamos lá, encare. Vai facilitar às coisas pra você. Você vai ver a sí mesmo sem tanta pressão. Sem tanta auto crítica. Sem tanto pesar. Você já fez atos idiotas, burros, vergonhosos. Você é um humano. Não o humano da literatura, ou como nós humanos falamos que são os humanos. Idealizados. Você é um humano como todos nós. Você pensa em sí mesmo. Você não é bondoso ou perfeitamente racional e honrado. Você é um humano como todos os outros que você vê escorregando na rua, se humilhando, roubando misérias pra se drogar. Um humano animal como todos os outros animais.
Você pode tentar pensar, compensando, que todos os outros já fizeram burradas também, e que se você não está acima deles, pelo menos está igual. Mas isso não é sobre eles. É sobre você. Sobre aceitar a realidade sua, não deles. Acertar as contas entre você e seu ideal. Não aceitar o ideal de outras pessoas. Se aceitar. Vamos lá, você nunca será perfeito. Você já errou. E porque você não tinha conhecimento suficiente. Ou porque você é humano, tem desejos, e o mundo exige que aja em tempo. Ou seja, muitas vezes sem planejar. Mas isso também é arranjar uma desculpa. Colocar a culpa no mundo. Que se não fosse pelo mundo e seu tempo você seria perfeito. Você não é. Como humanos ganhamos uma grande habilidade de cérebro privilegiado. Mas isso não significa que com o que temos podemos chegar a tudo o que almejamos. Você nem lembra o quê você comeu no almoço de ontem.
E outra coisa, você não é o herói do mundo. Você não faz a diferença. O que você fez hoje? Almoçou. Conversou sobre um assunto facilmente esquecível. Comprou arroz e feijão. Talvez até um humilde chocolate para sí. Vê? Sua vida não ajuda ninguem. Não muda o mundo. Se você não existisse seria igual. Um cara solitário estaria feliz com sua namorada. Sua namorada não sentiria sua falta, pois teria construído sua vida sem você, que ocupa uma fração pequena na vida dela.
Eu quero me anular.
Esquecer a vida com álcool.
Preencher a minha miséria (a nossa miséria) com o corpo de uma mulher.
21 outubro, 2011
20 outubro, 2011
Volta ao passado
Deparou-se com um guri.
Um garoto parado à frente dele. Era notável que era um garoto tolo, como todos os outros. Lhe era possível sentir; pelo seu jeito de olhar. Seu corpo se tensionou levemente. E meio segundo depois o cérebro compreendeu o baque. O guri que estava na frente dele era ele mesmo. Quando era jovem. Jovem, ignorante e tolo. O guri acenou para ele, e fez um gesto para que o seguisse. Seguiu o. Seguiu o num rumo que o fez repassar e refazer suas atividades e bobagens daquela época. Como se fosse um guri idiota, amigo e companheiro de seu guri mais jovem. Os dois iam e repetiam as mesmas idiotices que ele tinha feito 10 anos atrás. Era idiotia. Não queria voltar no tempo. Esquecer suas memórias e experiências. Mas não podia parar de acompanhar seu eu mais jovem, como hipnotizado. Continuou fazendo idiotices maquinalmente. Queria voltar a ser seu eu futuro com recordações. Sair desse mundo enclausurado de sua infância. Conhecendo tão pouca coisa. Como se ele tivesse saído do ritmo natural. Suas vontades e aspirações eram de adultos, mas se via numa realidade fazendo as coisas limitadas que ela lhe permitia. Por comparação era como se estivesse atrasado pra sí mesmo. A sua festa já tinha terminado, mas estava entrando agora no pula-pula, estava colocando a ficha agora no video game, estava se "divertindo" pra poder passar logo esta fase, e chegar onde a outra festa. Não a festa com bebidas e danças, que vinha logo após a festa com pula-pula, mas ultrapassar rapidamente esta tambem, e finalmente chegar na festa que seu espírito queria estar. Uma festa de reflexões. Procurando oportunidades, conhecer o mundo que tinha locais que ainda não tinha passado por. Onde era natural ele estar, no ambiente de sua idade verdadeira. Com o céu mais amplo. As limitações ainda a perder de vista, pois ainda não tinha experimentado todas as possibilidades do seu tempo. Se sentiria livre por isso. Enquanto que a realidade a qual estava preso ele conhecia tudo. Desenhos a tarde inteira na tevê, achar a escola e picuinhas da escola importantes. Gastar tempo tentando interpretar ações de uma garota, apesar de ser apenas um completo castelo no ar todas as suas interpretações. E saber que vai passar por tudo isso sem uma lembrança sólida. Na verdade, lembrando que não queria guardar uma lembrança sólida desse período. Saber que tudo o que fez foi algo que não resultou em nada. Além de tempo perdido dando voltas iguais dentro da mesma gaiola pequena.
Um garoto parado à frente dele. Era notável que era um garoto tolo, como todos os outros. Lhe era possível sentir; pelo seu jeito de olhar. Seu corpo se tensionou levemente. E meio segundo depois o cérebro compreendeu o baque. O guri que estava na frente dele era ele mesmo. Quando era jovem. Jovem, ignorante e tolo. O guri acenou para ele, e fez um gesto para que o seguisse. Seguiu o. Seguiu o num rumo que o fez repassar e refazer suas atividades e bobagens daquela época. Como se fosse um guri idiota, amigo e companheiro de seu guri mais jovem. Os dois iam e repetiam as mesmas idiotices que ele tinha feito 10 anos atrás. Era idiotia. Não queria voltar no tempo. Esquecer suas memórias e experiências. Mas não podia parar de acompanhar seu eu mais jovem, como hipnotizado. Continuou fazendo idiotices maquinalmente. Queria voltar a ser seu eu futuro com recordações. Sair desse mundo enclausurado de sua infância. Conhecendo tão pouca coisa. Como se ele tivesse saído do ritmo natural. Suas vontades e aspirações eram de adultos, mas se via numa realidade fazendo as coisas limitadas que ela lhe permitia. Por comparação era como se estivesse atrasado pra sí mesmo. A sua festa já tinha terminado, mas estava entrando agora no pula-pula, estava colocando a ficha agora no video game, estava se "divertindo" pra poder passar logo esta fase, e chegar onde a outra festa. Não a festa com bebidas e danças, que vinha logo após a festa com pula-pula, mas ultrapassar rapidamente esta tambem, e finalmente chegar na festa que seu espírito queria estar. Uma festa de reflexões. Procurando oportunidades, conhecer o mundo que tinha locais que ainda não tinha passado por. Onde era natural ele estar, no ambiente de sua idade verdadeira. Com o céu mais amplo. As limitações ainda a perder de vista, pois ainda não tinha experimentado todas as possibilidades do seu tempo. Se sentiria livre por isso. Enquanto que a realidade a qual estava preso ele conhecia tudo. Desenhos a tarde inteira na tevê, achar a escola e picuinhas da escola importantes. Gastar tempo tentando interpretar ações de uma garota, apesar de ser apenas um completo castelo no ar todas as suas interpretações. E saber que vai passar por tudo isso sem uma lembrança sólida. Na verdade, lembrando que não queria guardar uma lembrança sólida desse período. Saber que tudo o que fez foi algo que não resultou em nada. Além de tempo perdido dando voltas iguais dentro da mesma gaiola pequena.
06 outubro, 2011
Pensamentos durante as compras
Bom e velho Róbi...bom e velho Róbi. Era assim que seus conhecidos do trabalho o chamavam. Mas quem era ele realmente? Era apenas um medíocre ser humano.
De acordo com Róbi, o termo 'pensante', dado comumente aos seres humanos, talvez não fosse apropriado para sí. Foi sempre levado pelas situações. Nunca pensara, nunca precisou. Toda a sociedade já ditava o que tinha de fazer. "Tenha uma vida de sucesso. Seja empresário, case com uma bela e desejada mulher. Tenha uma família, e continue trabalhando. Se você se cansar de trabalhar, aposente-se e vá pescar. Em caso de dúvidas procure a religião oficial do Estado."
Não tinha objetivos além de fazer o que lhe parecia normal e comum.
E atualmente continua sendo levado pela situação externa. Estava ilhado na própria loja de comércio que possuía.
Foi pegar na despensa o último pote de geléia de morango (e última comida disponível para ele). Colocou a mão sobre a tampa e começou a forçar para desrrosqueá-la. Enquanto isso refletia sobre sua situação atual.
Tinha com medo de sair para ajudar a enfrentar advogados. Tinha medo de morrer, de ser contaminado, de perecer enquanto ajudava seus semelhantes a continuarem sobrevivendo. Tinha motivos para lutar e tinha motivos para não lutar. Sua família estava ilhada no próprio domicílio. Logo os portões enferrujados da casa iriam tombar perante aquele grupo de advogados na frente dos portões.
Ele tinha um objetivo nessas horas, de acordo com a cartilha. Era lutar feito retardado correndo em direção da sua casa, se possível de jeito emocionante e com lágrimas nos olhos, e assim salvar sua família.
Mas havia uns seres estranhos, querendo matá-lo, ele pensava. Como podia sair por aí se sua pequena existência de 48 anos poderia terminar? Ele não tinha feito todas as coisas que queria.
Porcaria de pote emperrado.
Sua mente tambem lembrava-o que era seu dever como cidadão ir lá e morrer lutando para defender seus semelhantes. Havia milhares de homens corajosos enfrentando os seres, com vigor e coragem. Enquanto ele tinha medo de defender a própria família.
Porra de tampa filha da puta, não abre nem com dentes!
Ele tinha de sair e mostrar que era homem como todos os outros, e que estava à altura de ter uma família própria e de defende-la.
Mas estava lá. Vou morrer comido em 15 minutos. Minha vida termina em quinze minutos.
Tudo o que fiz, que nem foi tanto, vai acabar. Vou deixar de existir, para sempre(!). Não é como se eu fosse dormir um dia, não tivesse sonhos durante o sono, e acordasse um tempo depois, como se eu tivesse deixado de existir durante esse tempo. Eu deixarei de existir para sempre! Sempre é infinito! É grande demais!
Nunca mais estarei no universo, estarei em lugar algum.
Eu que sempre quis ficar deitado dormindo metade das minhas férias. Que considerava privilégio poder dormir ao invês de trabalhar. Vou ter todo descanso que eu queria e não queria. E nunca mais vir trabalhar, sair para andar pelas ruas, cheias de cheiros, visões, brilhos metálicos e outros seres humanos.
Porra de tampa filha da puta!! Eu só quero minha geléia! Deus está contra mim?! Nesta hora ele faz isso comigo?! Nesta hora?! Grande filho da mãe, nem deve existir mas merece minha raiva! Ah, saco, vou tentar com a pá.
E pensar que...eu poderia ter brigado na rua com muitos brutamontes na minha vida. Que eu poderia ter transado com muitos homens na minha vida. Viajar para a África, conviver com o que há lá. Ver o que há de mais miserável. Que eu poderia ter lido Crepúsculo sem me trancar no banheiro, nem sofrer para esconder aquilo. Poderia ter me rebelado contra as coisas e feito traquinas na escola. O que mais falta? ah, eu lembro de tudo o que eu quero fazer antes de morrer. Pular de pára-quedas. Dar um soco no meu vizinho, filho da puta.
Róbi escuta um murmurar em latim em frente à porta de sua lojinha. Fica estático, de volta ao mundo, de seu devaneio. Uns segundos depois escuta muitas vozes falando termos em latim e sobre acordos e contas a pagar. O portão vai se abrindo, se quebrando no meio. Cinco advogados entram no mercadinho de Róbi. Róbi tropeça no chão plano e vai se esgueirando como uma maçã em direção a nenhum lugar em particular. Os cinco advogados são rápidos e logo deglutem bom e velho Róbi. Róbi podia ver sua carteira e seus músculos sendo vasculhados. Róbi ficou vendo sua morte, estático. Uma vista privilegiada da própria morte. Ficou deslumbrado com o desmembrar do próprio corpo, com a idéia de que estava a segundos da morte.
De acordo com Róbi, o termo 'pensante', dado comumente aos seres humanos, talvez não fosse apropriado para sí. Foi sempre levado pelas situações. Nunca pensara, nunca precisou. Toda a sociedade já ditava o que tinha de fazer. "Tenha uma vida de sucesso. Seja empresário, case com uma bela e desejada mulher. Tenha uma família, e continue trabalhando. Se você se cansar de trabalhar, aposente-se e vá pescar. Em caso de dúvidas procure a religião oficial do Estado."
Não tinha objetivos além de fazer o que lhe parecia normal e comum.
E atualmente continua sendo levado pela situação externa. Estava ilhado na própria loja de comércio que possuía.
Foi pegar na despensa o último pote de geléia de morango (e última comida disponível para ele). Colocou a mão sobre a tampa e começou a forçar para desrrosqueá-la. Enquanto isso refletia sobre sua situação atual.
Tinha com medo de sair para ajudar a enfrentar advogados. Tinha medo de morrer, de ser contaminado, de perecer enquanto ajudava seus semelhantes a continuarem sobrevivendo. Tinha motivos para lutar e tinha motivos para não lutar. Sua família estava ilhada no próprio domicílio. Logo os portões enferrujados da casa iriam tombar perante aquele grupo de advogados na frente dos portões.
Ele tinha um objetivo nessas horas, de acordo com a cartilha. Era lutar feito retardado correndo em direção da sua casa, se possível de jeito emocionante e com lágrimas nos olhos, e assim salvar sua família.
Mas havia uns seres estranhos, querendo matá-lo, ele pensava. Como podia sair por aí se sua pequena existência de 48 anos poderia terminar? Ele não tinha feito todas as coisas que queria.
Porcaria de pote emperrado.
Sua mente tambem lembrava-o que era seu dever como cidadão ir lá e morrer lutando para defender seus semelhantes. Havia milhares de homens corajosos enfrentando os seres, com vigor e coragem. Enquanto ele tinha medo de defender a própria família.
Porra de tampa filha da puta, não abre nem com dentes!
Ele tinha de sair e mostrar que era homem como todos os outros, e que estava à altura de ter uma família própria e de defende-la.
Mas estava lá. Vou morrer comido em 15 minutos. Minha vida termina em quinze minutos.
Tudo o que fiz, que nem foi tanto, vai acabar. Vou deixar de existir, para sempre(!). Não é como se eu fosse dormir um dia, não tivesse sonhos durante o sono, e acordasse um tempo depois, como se eu tivesse deixado de existir durante esse tempo. Eu deixarei de existir para sempre! Sempre é infinito! É grande demais!
Nunca mais estarei no universo, estarei em lugar algum.
Eu que sempre quis ficar deitado dormindo metade das minhas férias. Que considerava privilégio poder dormir ao invês de trabalhar. Vou ter todo descanso que eu queria e não queria. E nunca mais vir trabalhar, sair para andar pelas ruas, cheias de cheiros, visões, brilhos metálicos e outros seres humanos.
Porra de tampa filha da puta!! Eu só quero minha geléia! Deus está contra mim?! Nesta hora ele faz isso comigo?! Nesta hora?! Grande filho da mãe, nem deve existir mas merece minha raiva! Ah, saco, vou tentar com a pá.
E pensar que...eu poderia ter brigado na rua com muitos brutamontes na minha vida. Que eu poderia ter transado com muitos homens na minha vida. Viajar para a África, conviver com o que há lá. Ver o que há de mais miserável. Que eu poderia ter lido Crepúsculo sem me trancar no banheiro, nem sofrer para esconder aquilo. Poderia ter me rebelado contra as coisas e feito traquinas na escola. O que mais falta? ah, eu lembro de tudo o que eu quero fazer antes de morrer. Pular de pára-quedas. Dar um soco no meu vizinho, filho da puta.
Róbi escuta um murmurar em latim em frente à porta de sua lojinha. Fica estático, de volta ao mundo, de seu devaneio. Uns segundos depois escuta muitas vozes falando termos em latim e sobre acordos e contas a pagar. O portão vai se abrindo, se quebrando no meio. Cinco advogados entram no mercadinho de Róbi. Róbi tropeça no chão plano e vai se esgueirando como uma maçã em direção a nenhum lugar em particular. Os cinco advogados são rápidos e logo deglutem bom e velho Róbi. Róbi podia ver sua carteira e seus músculos sendo vasculhados. Róbi ficou vendo sua morte, estático. Uma vista privilegiada da própria morte. Ficou deslumbrado com o desmembrar do próprio corpo, com a idéia de que estava a segundos da morte.
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