18 agosto, 2010

hoje (ou sonho)

hoje eu tive um sonho incrível. descobri um lado incrível dos sonhos. se você crê no que você sonha é como se fosse um teatro, e você como ator acreditasse em seu papel. é muito mais do que imaginar uma situação.
ao imaginar você acha que vai agir de modo a. no entanto a vivência não é algo imaginável. esqueça. por mais que você tente imaginar, nunca se aproximará da experiência real. a emoção da realidade deturpa toda a sua imaginação que seria como você agiria se não houvesse elementos externos interferindo em suas análises internas.

ao sonho.
sonhei que as minhas pernas não tinham forças. eu conseguia me manter de pé sofregamente. basicamente não tinha pernas utilizáveis. andava com muito esforço, arrastando a carne dos músculos flácidos das pernas.
era um pesadelo que eu dizia "só pode ser um sonho! eu vou acordar!". mas sabia que não era um sonho.

era desesperador para mim. as lembranças esparsas da minha vida real iam se mostrando passado e inatingíveis de re-ocorrerem. a realidade agora parecia fragmentada, visualmente falando. não era contínua. eu me esquecia da realidade por um tempo, pra fugir dela, e quando me dava conta estava acontecendo outra coisa diferente do momento passado. eram frames e eu só assistia.
o ambiente tinha uma cor pastel, tendendo a preto-e-branco. só algumas colorações de "azul de hospitais".

então eu tentei me lembrar porquê minhas pernas ficaram naquele estado. tentei ligar os fatos.
eu não me recordava. o máximo que me recordava era quando já tinhas as pernas assim.
perguntei a minha mãe, quando foi que minhas pernas ficaram assim. ela não sabia o que responder. e não respondeu. repeti a pergunta mais vezes, ela não respondeu.
então era angustiante eu não saber porquê eu fiquei daquele jeito. porquê me foi infligida tal privação. eu esperava que eu tivesse feito algo, e devido à mim mesmo ocasionei aquilo as minhas pernas. eu seria o culpado e a vítima. seria justo pelo meu ato. haveria uma lógica de porquê fui castigado.
mas não havia ato. simples assim. não havia um motivo para aquele estado. de privação, de desespero, de exclusão.

era como se eu tivesse nascido com aquilo. não havia justiça. foi simplesmente o "destino" caótico.

só me restava, ou tinha, de me revoltar contra o mundo. com a realidade. não tinha alguêm a quem eu devia mirar minha revolta. era simplesmente contra tudo. era isso a revolta desesperada. odiava até minha mãe, que me protegia, por ela fazer parte construtora dessa realidade, mesmo completamente inocente na arquitetura da realidade.

chorava freqüentemente. gotas de lágrimas transbordando em revolta, de tão palpável que era. era palpável minha revolta devido à força que ela tinha dentro de mim.

então eu acordei na cama do meu quarto. olhei ao redor o meu quarto. mexi as pernas brevemente. pensei "eu consigo me mexer melhor do quê imaginava". aí acordei realmente. olhei de novo o quarto, liguei os pontos e notei que fora um sonho.

estava agitado nessa hora.


algumas horas depois, no banheiro, estava pensando no sonho. pensei qual seria meu próximo passo se continuasse o sonho por muito tempo. imaginei que eu me sentiria excluído da sociedade. não me considerava mais um humano integro, perfeito. (observatión: claro, que não penso nos cadeirantes desse modo; mas seria como eu me veria) iria me distanciar mais e mais das pessoas "normais". teria ódio delas. eu seria um pária.

então eu me decidiria por ser uma nova espécie.

a teoria da evolução diz que a partir de modificações corporais foi possível que alguns animais se adaptassem melhor ao ambiente. chamemos de modificações corporais "aberrações". esses animais modificados tambem são novas espécies. párias que criariam uma nova espécie. uma família a partir do nada.

iria transformar a falta de força nas minhas pernas em algo de quê me aproveitar. colocaria próteses. não haveria o cansaço dos atletas em pernas. nas para-olimpiadas foi constatado que quem tem próteses no lugar das pernas corre mais rápido, ou por mais tempo, não me recordo.
poderia até colocar adições nos meus novos membros. seria como o edward elric em fullmetal alchemist.

me toquei que eu estava passando por algumas 5 fases da dor. na ordem cronológica seria: a negação do fato; raiva; barganha; depressão e por fim aceitação(se você conseguir chegar mentalmente até esta alguns devem estagnar em alguma fase).

foi quando me lembrei, que o reverbel me disse uma vez "num jogo de rpg futurísta apocalíptico e punk seu personagem pode ter próteses. mas ele vai perdendo pontos de humanidade, que é o que define se ele pensa como um ser humano."
eu já estaria me considerando uma nova raça. não me consideraria mais humano. pensaria então diferentemente de um ser humano. me veria livre dos padrões de pensamentos humanos.

lembrei do magneto, num dos 3 filmes de x-men que passou no telecine ou qualquer coisa do gênero. ele queria matar humanos não mutantes, pois considerava mutantes a nova evolução da espécie humana. como xavier e a escola de mutantes conseguiram ter a vontade de proteger os humanos que os excluíram? de onde surgiu tal apreço?

lembrei então de que edward elric e alphonse (fullmetal alchemist) queriam restaurar seus corpos modificados para voltarem a serem humanos. o alphonse tinha o corpo substituído por um de metal. ele era excluído. tinha vida eterna, mas excluído. ser excluído e ninguêm com quem compartilhar algo emocional seria como não ter emoções?
e edward elric? havia outras pessoas com próteses de metal em seu mundo. a prótese de metal servia como um escudo e era muito forte. muito útil onde ele vivia. o quê o motivava a voltar a ter seus membros originais? seria a mesma motivação que eu teria para reaver a força normal de pernas?

me toquei que tinha passado muito tempo em divagações, tentei acordar totalmente, saí do banheiro e fui fazer as compras no supermercado.

Um comentário:

  1. Uma nova espécie! Apesar de a ideia ser uma muleta intelectual, já que a princípio imagino que não é preciso ser de uma nova espécie para decretar revelia às convenções, é um jeito revigorante de ver a coisa. E, afinal, muletas são mesmo ruins?

    Quer correr como o vento comigo? Que atmosfera inebriante e seca está essa semana!

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