11 novembro, 2012

Máscaras

José queria ser alguém na vida.
Para alegria dele, conseguiu ser ninguém.
Ninguém e todo mundo.

No Japão há uma lenda antiga
De uma máscara de teatro Kabuki
Que passou a ser chamada de máscara de carne.
De tanto usá-la
ela passava a ser sua cara.

Já João, por outro lado, não gostava de sua vida existencialista.
Sem querer ele fingia ser como ele queria ser.
Vivendo uma mentira já que o mundo não lhe aprazia.

Ele fingia ser como ele queria ser para cada pessoa.
O João filho, o João amante, João amigo comediante, João etc.
Um, Nenhum ou Cem Mil.
Então João se perguntou -Quem desses sou eu?
João, o filho, não podia ser João, o comediante de humor negro.
João, o amante, não podia ser João, o fracote.
Ninguém o conhecia enfim.
26 anos se passaram e ninguém o conhecia ainda.

Um comentário:

  1. Muito interessante como o segundo parágrafo (ou estrofe, já que o texto parece estar organizado como poema) parece falar de alguma outra coisa, assim, de repente. Isso quebra o discurso direto de forma agradável, pois conforme se vai lendo, espera-se uma ligação mais explícita entre o João e a lenda da máscara, mas não. A ligação fica a cargo do leitor quando termina de ler tudo.
    Se viesse no fim, funcionaria de outra maneira, mas não tão bem qunato vindo assim, quanse no começo.
    Existem vários "Joãos" por aí e eu lembro sempre de alguns, pessoas que usam máscaras e vivem personagens menos eles mesmos. E alguns deles apenas preferem ser assim para não precisar lidar com tantos problemas internos.

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