isto pensei hoje durante a aula de boxe:
" meus músculos estão aumentando. não gosto deles.
cultivo um pouco eles pelas artes marciais.
e pela guria lá, que adorava músculos. (obs. do narrador: podem chamar de coisa tola a se fazer. construir algo por outra pessoa, por uma paixãozinha. ok, não era só pela outra pessoa. acontece que sempre gostei de artes marciais. mas ultimamente perdi a gana, o divertimento por aprender a controlar meu corpo.)
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gostava dela. uma das poucas de quem realmente gostei.
duas nas minhas contas atuais, acho. deixa eu pensar.
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agora fui abandonado por ela. na verdade afastei-a. sei lá.
os músculos agora só servem para eu descarregar a minha insatisfação com o resto das coisas.
não mais para tentar satisfazer quem queria satisfazer.
agora estou apenas para construir minha habilidade de destruição. sem querer. não é mais por outro motivo. como antes.
não gosto de destruir as coisas. principalmente agora que destruí o que me era maior fonte de felicidade no momento (apesar dos momentos de confusão horríveis).
agora, com uma graduação que não é mais caminho para meu antigo sonho (ainda é, mas perdi o sonho).
com um escritório no qual eu me deprimia terrivelmente.
vendo na tela do computador eu 50 anos mais velho fazendo os mesmos serviços, sem tocar em minhas vontades e sonhos.
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o aumento de meus músculos representa coisas.
minha infantilidade em adorar técnicas marciais quando era pequeno.
agora o uso deles para expressar meu rancor. com a realidade, que imagino e que recebo.
é só a tentativa de destruição de minha insatisfação. não há esperanças em meus socos agora.
tento, apesar de saber imaginária, a destruição da esperança.
estou me desgarrando de meus sonhos. antes queria ajudar em alguma coisa. agora quero apenas meu quilhão de prazer. "
isto descrito pensei em meio a cada ofegação. de quê me adiantava ali no meio?
não culpo ela. meu rancor se dirige a um resto da humanidade. não contei mentiras, somente ocultei verdades por muito tempo. e não tenho belos olhos azuis.
sou muito pra mim, sou nada pro resto, sou eu mesmo na verdade apenas. alguem que não é especial a ninguém, quando todos me ensinaram a querer ser especial. queria ser especial para o mundo. se não é possível, quero então ser especial a alguem. por anos tentei combater tal vontade, dizendo para mim mesmo "as pessoas não precisam saber o que fiz ou faço. só deve importar a mim mesmo. minha existência só deve importar a mim mesmo. não precisarei da aprovação de outros, mas só da minha consciência".
mas a vontade é forte. não é para ser importante no entanto a qualquer um. deverei ser o mais importante para a pessoa que colocarei no centro do universo.
não quero que minha existência seja apenas mais uma dentre todo o número de existências. de quê vale minha existência, se vivo para construir coisas e desenvolver na sociedade? deveria viver o presente, sem me preocupar em desenvolver. no meio da floresta, sozinho, sem a cobrança de outros, se é pra não ser especial em meio a essas cobranças. somente mais um tijolo.