11 setembro, 2011

Reli Memórias Póstumas de Brás Cubas

A aqueles que creêm que ser negro, pobre, gay, doente mental é ser um ser inferior, apresento-vos Machado de Assis. Pobre na infância, mulato, gago, epiléptico. Só não era gay. Mas na história já há homens suficientes (lembrando, já que muitos esquecem [inclusive militantes gays], que eram humanos antes de incríveis ou gays) incríveis que eram gays.

Creio na verdade que essas "dificuldades" (são dificuldades mesmo, pois ser gago ou epiléptico são dificuldades, e ser negro ou gay é tambem uma dificuldade, com a diferença de ser artificial, já que criada pelos humanos antes de existir por sí só), que muitos crêem ser sinal de falta de talento, na verdade são potencializadores desses. Ou, melhor, sumonam os.
Imagine um paraíso. Tudo tranqüilo e ajeitado. Os homens seriam todos medíocres e iguais. Com relação ao paraíso, penso que o pecado original é a verdadeira inauguração da humanidade. Antes dele a humanidade só se fazia estar lá. Não agia. Eva seria a verdadeira emancipadora da humanidade. Tanto amante que exigiu que o homem agisse, mostrasse suas qualidades e se desenvolvesse; enquanto Adão era medíocre, aceitando viver restrito (bem, convenhamos, em defesa de Adão, você se rebelaria contra um deus todo poderoso?). Lembra da frase "Ela te ama se ela quer que você siga suas vontades"? Acho que assim deus na estória pensou "ah, queres desenvolver seus talentos submersos? Então vou mandar-te algo pra desenvolver seus talentos. Vocês agora têm a morte, o trabalho de se sustentar e sobreviver, e de bônus, a dor do parto a você, Eva, que levou meu menino a ser independente de minhas decisões".
Anos atrás um amigo me disse que satanismo não é realmente fazer sacrifícios ou cultos a um bode, mas sim admirar a ciência e o desenvolvimento. A ciência realmente é a indagação sobre o "que pode acontecer se...", muitas vezes em detrimento de certas coisas sagradas, e na maioria das vezes apenas querendo melhorar a vida humana. Eva realmente foi a primeira satanista, nesse conceito. Lembrando que, pela estória, Lúcifer se rebelou contra deus por não aceitar viver sob ordens dele e querer tomar o controle(não só de sua própria existência).

Tendo a oscilar entre procurar novos conhecimentos (pra arranjar uma vida mais divertida, e não ficar ignorante a um aspecto dela), e a sacralizar uns conceitos que estimo muito. Mas agora não tem mais um Pai pra falar o que é certo ou errado, além da sociedade. Minha mente já questiona coisas que antes considerava imutáveis.

7 comentários:

  1. pq ser gago ou epilético não é tão artificial quanto ser gay ou negro? só um detalhe.

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  2. acho que não. quer dizer, eu considero um problema de eu estar andando e do nada me acordarem dizendo que eu desmaiei no chão e comecei a tremelicar. no caso de um gay ou de um negro ou judeu não tem nenhuma implicação direta, somente cultural no máximo

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  3. ACho que ser gay tem sim uma implicação direta, diferentemente dos gays e judeus. POrque existe uma sociedade negra que te tolera e não é racista, por mais que no geral, a sociedade seja racista, o memso caso pros judeus. Mas pros gays, vê-se de cara uma diferença, pois nem os pais aceitam a própria natureza homossexual do indivíduo. Acho que a luta por ser gay é a mais dura de todas as lutas, porque as pessoas acreditam que é algo não-natural, artificial, quando é claramente algo natural.

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  4. Sei não ugo, da mesma forma que tem muito gay que acha que ser gay é errado, em muitos lugares/épocas os negros se acharam inferiores. Ser discriminado freqüentemente leva uma população a se auto-discriminar. Da mesma forma o machismo é tão presente nas mulheres quanto nos homens. É claro que é diferente porque com freqüência os gays têm pais héteros que não os aceitam e acham que eles podem mudar, o que quer dizer que conviver com a sua família é ainda pior do que no caso de preconceitos do tipo negro, em que sua família pode te aceitar desde que você aceite ser inferior (embora eu ache que hoje em dia isso é muito mais raro, acho que esse tipo que preconceito migrou dos negros pros pobres). Mas sempre existe a comunidade gay. Sei lá.

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  5. Sabe, eu acho que você deixou de generalizar suficiente em um aspecto. Não acho que ser gay, ou negro, potencialize por si só coisa alguma. É mais uma coisa da pessoa conseguir passar por um monte de testes e dificuldades, é algo como um filtro. Se Machado de Assis se fez, mesmo ante todos esses preconceitos, não é porque ele era igual ao "homem comum" e sim porque ele era muito superior. Pra cada grande escritor ou filósofo gay, tem uma dezena de outros sendo cabeleireiros, ou se prostituindo... Não estou colocando nada disso como ruim, é mais o fato de que algumas pessoas são batidas pelo preconceito, e buscam um lugar que a sociedade reservou pra ela. e outras, passam por cima disso, e acho que não existe potencialização em nada disso, ou se existe, ela é minima e não tão importante quanto a própria capacidade do ser de ir além, de desafiar o destino reservado para ele.

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  6. luna, creio que só o fato de você lidar com uma vida diferente já é muito. aceitar ser prostituto não diminui a pessoas. acho que ela lidar com essa vida e aceitá-la é necessário muita coragem e ousadia, além de saber dosar uma racionalidade e emotividade. ou simplesmente ser cabeleireiro. acho que aceitar se distanciar da norma já é um ato de rebeldia e que necessita de mais capacidade que ficar enquadrado nos conformes.

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  7. Não diminuí nenhum dos exemplos. Meu ponto foi com as pessoas se resumindo àquilo que de certa forma é o destino delas, algo criado pela própria sociedade. Mesmo nesse caso não vejo na forma de diminuir, pq é difícil se sobrepor a sociedade.

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